quinta-feira, 25 de abril de 2013

Conjunções

Você já ouviu falar de conjunções astronômicas, cósmicas, estelares ou planetárias? Popularmente, todas essas expressões são usadas aqui e acolá com certo ar de mistério e magia. Não sem razão, já que os fenômenos astronômicos que se pretende descrever por meio delas, além de pouco compreendidos pela maioria das pessoas, podem resultar em singelos espetáculos celestes. Delas, porém, a única expressão com algum valor astronômico é a última. Você vai entender o porquê.

De acordo com o glossário do The Astronomical Almanac 2013, a conjunção é "o fenômeno em que dois corpos parecem ter a mesma longitude eclíptica ou a mesma ascensão reta, quando vistos de um terceiro corpo". De uma forma prática, isso quer dizer que dois corpos celestes são ditos em conjunção quando aparecem razoavelmente alinhados no céu que um observador localizado em outro corpo celeste enxerga.

Naturalmente, isto vale para todo tipo de corpo celeste: planetas, satélites, estrelas... Mas é fácil entender por que não há necessidade - e em certos casos nem mesmo faz sentido - de certas adjetivações à palavra "conjunção". "Conjunção astronômica" é uma expressão geral, que vale para qualquer tipo de conjunção entre corpos celestes. O mesmo vale para "conjunção cósmica". Por serem excessivamente abrangentes, acabam se tornando desnecessárias, a não ser que se queira fazer uma diferença entre este tipo de conjunção e a conjunção gramatical...

Já a "conjunção estelar" é um tipo de evento que acontece simplesmente o tempo todo e com os mesmos corpos celestes! Isso porque mesmo as estrelas mais próximas estão tão distantes de nós que afastamentos e aproximações entre elas são quase imperceptíveis daqui. Resultado: para o observador comum, elas estão sempre na mesma posição umas em relação às outras. Estrelas "em conjunção" nunca deixam de estar e as que não estão, tampouco virão a estar.

Agora, quando chegamos às conjunções planetárias, as coisas mudam um pouco. Os planetas visíveis a olho nu se encontram numa faixa de distância que varia entre 40 milhões e 1,6 bilhão de quilômetros da Terra. Em termos cósmicos, isso quer dizer "na esquina". Por isso, mesmo sendo milhares de vezes menores do que certas estrelas visíveis, podemos não só enxergá-los como também perceber seu deslocamennto ao redor do Sol. Como não têm posição celeste fixa, uns em relação aos outros, ora eles estão completamente afastados no nosso céu, ora estão próximos e alinhados, sendo esta última possibilidade, mais incomum, denominada "conjunção planetária".

Mas há ainda um outro corpo celeste que pode passar por isso: a Lua. Como se trata do único satélite natural visível a partir da Terra, nossa lua não pode entrar em conjunção com nenhum outro corpo celeste do mesmo tipo. Porém, ela não só pode como entra frequentemente em conjunção com os planetas, resultando, em minha opinião, no tipo de conjunção mais bonito de se ver. Principalmente quando a Lua está no começo da fase crescente ou no fim da minguante e assim não ofusca seu companheiro de conjunção. Na semana passada, tive a oportunidade de registrar este belo encontro entre a Lua e Júpiter, o gigante gasoso com mais de 11 vezes o diâmetro da Terra que impera entre os planetas do nosso sistema solar.
 

Hoje à noite, quem estiver sob um céu limpo poderá divisar outra conjunção lunar, desta vez com o outro gigante gasoso de nossa vizinhança: Saturno. Não é um fenômeno tão bonito quanto o que fotografei porque a Lua está cheia, o que reduz substancialmente a visibilidade de qualquer corpo celeste ao seu redor. De todo modo, é uma conjunção!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Tentando observar uma chuva de meteoros...

Não sei se você já leu em algum lugar, mas estamos passando neste momento por uma chuva de meteoros. Quando digo que estamos passando, quero dizer que esse tipo de fenômeno, muito mais comum do que a gente costuma imaginar, dura vários dias e pode ser visto na maior parte da Terra. Pra sermos mais precisos ainda, cada chuvas de meteoros tem seu próprio nome, acontece em lugar certo no céu e tem até época prevista para acontecer todos os anos!

Isso acontece porque a tal "chuva" nada mais é do que o resultado visível no céu noturno da passagem da Terra pelos rastros de um cometa. Cada vez que nós passamos por onde um cometa já passou, restos dele que geralmente não ultrapassam o tamanho de um grão de areia acabam sendo atraídos pela gravidade do nosso planeta. O resultado disso é que esses detritos entram em alta velocidade na nossa atmosfera, ficam aquecidos pelo atrito com o ar e quase todos acabam se desintegrando num belo estalo luminoso: eis o meteoro que "chove".

Como são vários deles num curto espaço de tempo e numa área celeste reduzida, a chuva se destaca como uma bela oportunidade de apreciar "estrelas cadentes" (que de estrelas só têm a aparência, mas são estão mesmo caindo, como explicado). Esta atual atende pelo nome de Líridas, por se concentrar, ou melhor, por parecer irradiar da região do céu em que fica a constelação de Lira. Seu ápice se deu na madrugada de ontem para hoje.

Pois bem, munido de telescópio e câmera fotográfica, estive neste fim de semana num sítio localizado a pouco mais de 40km de Fortaleza, no município de Pindoretama. Infelizmente, o céu esteve coberto na maior parte do tempo. Dormi por volta da meia-noite, com tempo fechado, mas acabei me levantando às 3h30 pra dar uma olhada e aproveitar uma trégua das nuvens.

Como ainda estou começando a me aventurar no campo da astrofotografia, o que consegui de minimamente satisfatório foram apenas dois registros. Este primeiro é da constelação de Lira, com destaque para a estrela azul no canto inferior esquerdo, Vega, a quinta mais brilhante aos nossos olhos, e para a estrela dupla Epsilon Lirae, à direita dela. Em termos de meteoros mesmo, vi apenas um durante a curta janela de tempo em que o céu esteve limpo. Infelizmente, não pude fotografá-lo.
 

Fora isso, aproveitei para fotografar Escorpião, uma das mais belas constelações do céu e também, na minha opinião, uma das mais parecidas com o nome que carrega. Observe-se no alto, um pouco para  a direita,a  supergigante vermelha Antares, quase 900 vezes maior do que o Sol e 12 vezes mais pesada!


E você, será que você teve mais sorte do que eu?

Que esferas?

No Universo, tudo o que é grande o suficiente se torna razoavelmente esférico. Desde que um corpo atinja certo tamanho crítico, a força gravitacional, fraquíssima em distâncias tipicamente humanas, passa a dominar as interações entre as partículas que o compõem. Como a gravidade atua de forma homogênea, atraindo toda a superfície para o centro do objeto, o resultado são estuturas esféricas - em que pesem as frequentes irregularidades superficiais e o conhecido achatamento dos pólos.

Assim é que, quando olhamos para os céus, quase tudo o que divisamos são esferas! Esferas que por muitos milênios só pudemos conhecer por características como brilho, cor e periodicidade, mas hoje já se desnudam com muito mais detalhes aos nosso olhos ávidos por descobrir e compreender, graças aos esforços de gigantes que nos precederam e sobre cujos ombros, por assim dizer, observamos hoje o Universo.

Para compartilhar algumas experiências e reflexões sobre as esferas que tanto e há tanto tempo nos fascinam, esta alma astrônoma resolveu criar este espaço. Seja bem-vindo!